quinta-feira, 22 de setembro de 2016

#27 - OS MEDRONHEIROS, António de Navarro

Nos braços verdes, nus,
pousou um bando,
verde, leve,
d'asas glaucas
anunciando
o ocaso do inverno,
Cavalgada de Niebelungos que no longe se perde.

No estio,
o arnês,
do sol
se desfez
num chuveiro
d'oiro mole;
em cada gomo
-- um bago d'oiro
a tentar-me!

Quem me dera,
medronheiro,
como tu,
dar um fruto
que pudesse embriagar-me!

Escuto,
das seivas o corpo ébrio,
todo nu,
bailando no silêncio
rumoroso da floresta,
onde o vento canta
-- a eterna canção da gesta.

Os medronhos,
um a um,
vão caindo,
terminou o festim.
Nas taça, o vinho,
já tem sono,
já tem sonhos de mim.

E o outono,
pelo oiro do caminho,
vindo,
vem bailando
na dança-dos-véus,
dança das névoas.

Terminou o festim.
Principia a saturnália das folhas mortas.

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